SATÉLITE
Os meus olhos acolhem um bando
de reflexos, invisíveis a horas
mais sombrias, na luz aberta
LITERÁRIOS SABORES E CHEIROS
- Crónica de Luís Osório, no «Postal do Dia» - Adriano Jordão evoca o «peixe cozido que tanto trabalho deu num restaurante de luxo...»]; [AQUI, no YT, também]; + artigo na «Mensagem de Lisboa» (Maio)
- [alcançada a p. 86, de 359]
RECORTE(s)
Héctor Abad Faciolince, Salvo o meu coração, tudo está bem, pp. 50-51
- [outro(s) recorte(s) de uma das releituras do momento: Palomar, de I.Calvino]:
- [outro(s) recorte(s) de uma das releituras do momento: Palomar, de I.Calvino]:
[alcançada a p. 321, na quinta, à tarde, na Luz]
RECORTE(s)
Simone de Beauvoir (1908-1986), Memórias de uma menina bem-comportada (1958), 2023, pp. 312-313
GALÕES E CAFÉS
JANTAR EM ALCABIDECHE
RECORTE (s) do Caderno materno:
Eu estava bastante nervosa, para dizer a verdade, porque ainda não domino bem os costumes espanhóis [...]. Por exemplo: no nosso país, praticamente nunca se come peixe e os uruguaios detestam qualquer coisa que tenha espinhas. Aqui, ficam loucos com uma boa pescada. No Uruguai, o frango é um artigo de luxo e é muito distinto servi-lo num jantar e, aqui, é algo muito comum, quase banal [...]. Depois vem esse hábito espanhol de comer lentilhas, feijões ou grão-de-bico, mesmo nas melhores casas, algo que não ocorreria nem ao último trabalhador da exploração agrícola mais remota do Uruguai. Já para não falar de alguns pratos espanhóis que eu não me atreveria a experimentar nem que estivesse a morrer de fome no meio do deserto, como aqueles chocos com tinta que parecem mergulhados em lubrificante para automóveis, ou uns vermes que, segundo eles, são muito bons e se chamam meixões.
«Destapa as terrinas e as cuias, vê condimentado o thiof fresco que lhe mandaram do Senegal, seu pescado predilecto, aquele que entre os peixes mais tem sabor a rocha, costuma dizer, recheado de ervas e pimentas, olha guloso para o arroz amarelo nadando em óleo de palmito, para a tigela de molho avermelhado de malagueta, e sorri. De convido, descobre sob a toalha branca no meio da mesa uma gamela de mandioca, cenoura, batata-doce, inhame e repolho. Serve por ordem: arroz, verduras, peixe e molho. Come sozinho. Mastiga sofregamente, saboreia cada bocado até à raiz da saliva, toma uns goles do vinho ácido argelino, limpa os lábios com um paninho alvo, e compenetra-se como se esta fosse a sua última refeição. Arruma as espinhas num canto do prato, cobre a sobra com uma ponta da toalha, leva a loiça à cozinha, lava-a na bandeja de plástico dentro da pia, suspende o bule sobre o carvão, serve uma xícara de café como postre e bebe a olhar para a banheira velha de esmalte coberta de folhas podres no quintal. [...]»
Mário Lúcio Sousa, A última lua de homem grande, 2022, p. 107; [OUTRO]
OS FIGOS DE D. H. LAWRENCE
- poema - lista, de Autores...; sublinhados acrescentados
- RECORTE(s) da crónica de hoje, de MEC, no «Público»:
- a «prancha» de hoje, do «Bartoon», de Luís Afonso também poderá ser «reenviada» para aquele que trabalhou como Barman até 4 de DEZ. de 89; após isso, a LIC., em 9192, o MESTR., em 0205, que «furou» o CONG. no seu início (em 06), e a «morte na praia» do 8.º Degrau (lá para 2021...)...; claro que «metia menos a colher» do que este Boneco-Figurão...
- neste caso, R. acha que gosta mais do filme do que do Conto [1958] - OU será que precisa de reler este último?; no Inventário «A volta ao Mundo em 100 Livros», de A. Lucas Coelho, o Episódio n.º 89, de 29-10;
RECORTE(S):
- iniciada hoje, na «Carreira do 30» (da PICH. a Picoas), esta bem estruturada Ficção, em curtos «capítulos», com a Voz Narradora, ora de 1.ª ora de 3.ª Pessoa Verbal, em diferentes Tempos, «fragmentariamente»; atingida, ao final da manhã, a p. 65
- «perspectiva» de narrador com 9 anos no excerto escolhido, logo de página inicial:
[...] Quando terminei a primeira ronda, estavam as mulheres no começo de encher as farinheiras. O cheiro avinagrado da massa das farinheiras impregnava a divisão.[...] Quando voltei da segunda ronda da distribuição, mãos agradecidas a receberem as encomendas, olhos regalados a apreciarem a carne, a textura da carne sobre a couve, a minha mãe esperava-me com a vasilha do leite, tinha essa intenção planeada desde sempre. Depois do morno do sebo e da palha, depois do olhar mal iluminado das vacas, [...] cheguei com o quarto de litro de leite, mais um ou dois dedos por paga de bom freguês. Foi ao entregar a vasilha que a minha mãe me prometeu a nata. Eu conhecia já o desenvolvimento desse gesto, não era a primeira vez. [...]
José Luís Peixoto, Almoço de domingo, p. 22
- S. S. será devolvido à BiblioPenha até dia 29; de manhã, na ESP DEL + AGO, atingiu-se a p. 88
- [a Matanças, terá D. assistido a uma, no Vau (?) e a quantas no Monte da Marechal ?]
- outro (s) RECORTE(S) da leitura em curso:
Na casa da Isora a comida era uma mixórdia. Arroz amarelo com coxas de frango com molho com peixe salgado com batatas com ovos e batatas com cebolas, reutilizadas das batatas guisadas do dia anterior, com rancho com cozido de agrião com batata com carne, tudo junto. Na casa da Isora a comida era uma mixórdia, mas nesse dia não, nesse dia só havia cozido de couve. [...] O cozido de couve já estava na mesa a fumegar. Eu não gostava nada de cozido de couve e muito menos se tivesse gofio por cima. Mas a Isora adorava e se ela metia gofio por cima eu também. [...] A Chela punha sempre à Isora um prato mais pequeno do que o meu porque dizia que a isora comia pelos olhos e que era preciso controlá-la, pois caso contrário desordenava-se-lhe a fome. A Isora acabou o cozido rápido rápido, e depois começou a ver como é que eu comia o meu. [..]
[sublinhados acrescentados]
Andrea Abreu, Pança de burro, Bertrand, 2023, pp. 87-88
[Giulia] Acendia o fogo à maneira camponesa, com pouca lenha, e acendia os troncos só de um lado, juntando-os à medida que iam ardendo. Sobre esse fogo cozinhava, com os escassos recursos da terra, pratos saborosos. Preparava as cabeças das cabras a reganate, numa panela de barro, com as brasas por baixo e a tampa por cima, depois de ter embebido os miolos com ovo e ervas aromáticas. Das tripas fazia os gnemurielli, enrolando-os como novelos à volta de um pedaço de fígado ou de gordura e de uma folha de louro, e deixando-as a tostar sobre as chamas, enfiadas num espeto: o cheiro a carne queimada e o fumo cinzento espalhavam-se pela casa e pela rua, anunciando um delícia bárbara. [...]
Carlo Levi, Cristo parou em Eboli, Livros do Brasil; pp. 102-103
[pelos finais do século XIX, princípios do XX ?]
Em dezembro, encomendavam-se especialidades francesas e a casa enchia-se de caixas de abóboras e de empadões de vitela, de gaiolas repletas de perdizes vivas e de faisões depenados, já pousados na sua travessa de prata, cujas carnes estavam tão endurecidas pela viagem que à chegada não se conseguiam cortar. As mulheres entregavam-se então a experiências culinárias inverosímeis que pareciam mais próximas da feitiçaria que da gastronomia. Misturavam às velhas tradições das mesas francesas a vegetação da Cordilheira, impregnando os corredores de odores misteriosos e de fumos amarelos. Serviam-se empanadas recheadas de morcela, coq-au-vin, pasteles de jaiba com queijo maroilles, e reblochons tão fedorentos que as criadas chilenas pensavam que provinham sem dúvida de vacas doentes. [...] [negrito acrescentado]
Miguel Bonnefoy, Uma herança, Asa, 2023, p. 14
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Maria José Mestre mostra-nos como fazer pão alentejano em forno de lenha JOSÉ FERNANDES |
-[o forno ainda não caiu, o Monte, claro, derrubado, há muito está; no Regresso, ah, no regresso...]
- imagem do «Fugas», de artigo sobre Beja («o Alentejo deixa-se descobrir com vagar»)
RECORTE do excerto, em pré-publicação, no «Público» de Galileu em Pádua — Os dezoito Melhores Anos da Minha Vida, de Alessandro de Angelis, professor de Física em Pádua e Lisboa.
- São nove (nada mau...); artigo do »Público», que remete para a Univ . do Algarve, que também o disponibliza em «Pdf» [...]
- muitos anos passaram; D., num dos «próximos» dias, irá deambular por lá - quotidiano percurso entre Out-Nov de 81 e 31 de Julho de 83; antes que venha a esquecer-se de vez, regista-se o Nome do «Chef», minhoto, sócio do EXEC. A. O., Antunes - que chamava «doutor» a D. [...]
- servia-se «depois das horas» = ceias após espectáculos, por exemplo, ... [e D. via os cacilheiros - do Cais do Sodré, a 15 minutos a pé - que já não apanharia....]
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Foto de Nuno Ferreira Santos («Fugas») |
191
ana hatherly, 463 tisanas, Quimera, 2006
[da «selecção» de 20-21, ora «retomada»...]
BALADA DA AMEIXA SECA
Vai à mercearia e compra ameixa seca.
P’ra o intestino a ameixa é levada da breca!
O mal do Ocidente – quem há que não o sinta? –
é não ter a tripa sempre limpa.
Com seus altos valores, o Ocidente
dá por demais ao dente, dá por demais ao dente.
Põe-me os olhos nos povos que só comem arroz:
dão melhores guerrilheiros do que nós.
Um saquitel de arroz, uma biciclet’,
arma na bandoleira – e lá vai o viet.
«Noss’povo», ao contrário, come o que apanha à mão.
Até parece fome de muita geração!
E larga, já comido, o corpo em qualquer canto.
Sonha Terceiro Mundo e é Europa, entretanto.
Encostado ao sobreiro ou ao ficheiro,
«Noss’povo» já nada tem de marinheiro.
Sua tripa, represa, é trabalhosa.
Sua prosápia já só é má prosa.
Portugal-do-casqueiro à Europa-das-latas
manda cortiça, vinho, diplomatas.
Espera contrapartidas: sol-e-vistas
é cartaz que atrai muitos turistas.
Mas com a ameixa seca – coisa pouca! –
é que pode acordar sem amargos de boca.
Vai à mercearia e compra ameixa seca.
P´ra o intestino a ameixa é levada da breca!
de As horas já de números vestidas, 1981; copiado daqui:
https://alexandreoneill.bnportugal.gov.pt/as-horas-ja-de-numeros-vestidas/
PRELÚDIO E VARIAÇÕES
Carnes gordas
Desmembrei, desmanchei e desossei. Guardei as carnes magras na arca frigorífica, separadas em doses individuais. Salguei as carnes gordas. Ao longo de um ano preparei refeições variadas. Feijoadas, croquetes, suflês, cozidos simples, mas também pratos étnicos de difícil confecção. Com as miudezas fiz canjas perfumadas. Cozinhei os miolos à moda alentejana – primeiro fritos em banha, depois misturados com pão e sumo de laranja. Uma autêntica iguaria. Num domingo de muito sol, resolvi cozinhar para as mulheres do apartamento, sete ao todo, duas marroquinas, uma brasileira, três dominicanas e eu. Servi um guisado apurado com nabos, cenouras e batatas novas. A brasileira encheu o prato três vezes. Alegres do vinho, animadas, cantámos canções da Beyoncé, da Rihanna e da Dua Lipa. Foi um domingo bem animado. Tive especial atenção à preparação do coração. Depois de muito ponderar, decidi laminá-lo em fatias muito finas com uma faca santoku. Temperei-as com limão, mostarda, molho inglês e, em carpaccio, servi-as com cuscuz. [...] [Micro-conto, incompleto]
Ana Cássia Rebelo, Babilónia, 2021, pp. 63-64
- Arroz de Enguia... que era de Coelho...
- REcorte da ENTREV.a de hoje, pelos 90 anos...
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Foto de família em 1941: António Galopim de Carvalho é o primeiro à esquerda |
Conte-nos lá a história do arroz de enguia que partilhou no Facebook.
[....] A minha avó Mariana era viúva e vivia com dificuldades. Tinha três filhos. Tinha um quintal e ao lado da casa dela vivia uma família com dinheiro. Um coelho fugiu da casa dos ricos para o quintal da minha avó, escondeu-se num canto. Ela fez umas conjecturas em termos da moral, das igualdades e desigualdades sociais. Pegou no coelho e esticou-o, esfolou-o, esquartejou-o e fez um arroz. Quando os rapazes vieram para jantar: “Ó mãe, o que é o jantar?” E ela disse “arroz de enguia”, para os rapazes não dizerem que comeram arroz de coelho. Nós, cá em casa, quando fazemos arroz de coelho, mesmo já os meus netos, dizemos “arroz de enguia”. [...] - em Video, pelo minuto 3, 20
... por esta ou por outra «ordem», (na 1.a parte da) em Crónica do «Fugas», de Pedro Garcias;
RECORTES:
[...] Ainda hoje se discute sobre as verdadeiras motivações que, em 1884, terão levado Camilo Castelo Branco a desferir um ataque tão violento sobre um inglês tão consensual e estimado no Douro e no país, coroado barão e entronizado para a História como uma das figura lendárias do vinho do Porto e da sua região de origem. [...] [James Forrester.]
Na origem do livro está a publicação, 35 anos antes, de um texto na Westminster Review a condenar o vinho do Porto como, nas palavras de Camilo, “deletério e empeçonhado por acetato de chumbo e outros tóxicos anglicidas”. [...]
Pelos vistos, o autor do texto, anónimo, tinha sofrido na carne a adulteração do vinho do Porto, uma “mixórdia negra”, achando-se, na descrição mordaz de Camilo, “dispéptico, com azias, relaxes intestinais, eructações cloacinas, e o crânio sempre flamejante como suja poncheira, com o encéfalo em combustão de Cognac e casquinha de limão”. O ataque de Camilo é demolidor. “Em Inglaterra os porcos engordam na ceva do arsénico. Que fibras de raça aquela! (…)”.
[...] Mas o mundo, por tão grande ser, vive de lances mais dramáticos, para ele têm pouca importância estas queixas que à boca pequena vamos fazendo de faltar a carne em Lisboa, não é notícia que se dê lá para fora, para o estrangeiro, os outros é que não têm esta modéstia lusitana, veja-se o caso das eleições na Alemanha, em Brunswick andou o corpo motorizado nacional-socialista a passear pelas ruas um boi que transportava um cartaz assim rezando, Este não vota porque é boi, havia de ser cá, levávamo-lo a votar e depois comíamos-lhe os bifes, o lombo e a dobrada, até do rabo faríamos sopa. [...]
José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis; transcrito da edição de 2016, p. 304
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Reabertura das ESPLANADAS em Paris; de dossiê da Visão, a meio de Maio |