segunda-feira, 11 de abril de 2022

«a omeleta», Egito Gonçalves

 - R. diz, «a toda a gente», que está a «desacumular», carregando «sobras», e não só, para as (duas) «Mesas das Trocas» (a da «302» e a da «Máq. de Café»...); 
- ao mesmo tempo «rearruma-se» o entretanto «(re)acumulado»;- nesta tarde, enquanto decorria o «LENTO» «CdeT» do 3.º Bloco [das 17 às ...], «saltou» este poema de Egito Gonçalves, da (recente) antologia abaixo identificada [...]

a omeleta

Abrimos a janela por onde se insinua
uma forma de vento: instala-se
na cozinha um convite de amor. A luz
crepita para que os pêssegos madurem
e a panela canta como se olhasses 
o rio; pico a cebola
como se gradasse a terra, beijo-te
a nuca, as batatas aparecem descascadas;
um pássaro chilreia no ar do jardim
como se fosse ele o nosso coração. Um anjo
vela o saco das compras, um saco de plástico
onde embainhámos a geada das sombras, ali
poderão roer longamente as unhas.
Respiro-te. [...]
[incompleto]

Egito Gonçalves, O esperado fim do mundo já partiu - Uma antologia, Língua Morta, 2020, p. 50