sábado, 13 de março de 2021

«Esplanadar»; M. António Pina

 - (cada vez mais) adepto fervoroso do «Esplanadar», mas do «Solitário», E.
aguarda o «curioso» CAL. que aí vem: sistema 4x4 a partir de 5 de Abril, com o Interior ainda Vedado aos «desmascarados»...[...]

Reabertura das ESPLANADAS em Paris;
de dossiê da Visão, a meio de Maio

Esplanada

Naquele tempo falavas muito de perfeição,
da prosa dos versos irregulares
onde cantam os sentimentos irregulares
Envelhecemos todos, tu, eu e a discussão,

agora lês saramagos & coisas assim
e eu já não fico a ouvir-te como antigamente
olhando as tuas pernas que subiam lentamente
até um sítio escuro dentro de mim.

O café agora é um banco, tu professora de liceu;
Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o Che morreu.
Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes,
e não caminhos por andar como dantes.


Manuel António Pina, transcrito da p. 155 de Todas as palavras - poesia reunida, reimpressão de 2015; de Um sítio onde pousar a cabeça, 1991