segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

«OS PÊSSEGOS», Eugénio de Andrade

«OS PÊSSEGOS»

Lembram adolescentes nus:
a doirada pele das nádegas
com marcas de carmim, a penugem
leve, mais encrespada e fulva
em torno do sexo distendido
e fácil, vulnerável aos desejos
de quem só o  contempla e não ousa
aproximar dos flancos matinais
a crepuscular lentidão dos dedos.

Eugénio de Andrade, O outro nome da terra (da secção «Cumplicidades do verão»), 1988; transcrito da p. 441 de Poesia, 2005

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

«tangerina, tangerina», Eugénio de Andrade

Frutos
Pêssegos, pêras, laranjas,
morangos, cerejas, figos,
maçãs, melão, melancia,
ó música de meus sentidos,
pura delícia da língua;
deixai-me agora falar
do fruto que me fascina,
pelo sabor, pela cor,  
pelo aroma das sílabas:
tangerina, tangerina.
Eugénio de Andrade, Pequeno Formato, 1997; transcrito das pp. 548, 9, da edição de Poesia, de 2005