terça-feira, 25 de outubro de 2022

Nobre, «reencontrado» por Castro Mendes

[...] Eu já sabia da fama sulfurosa de um certo frade, que esperava a nossa excursão à saída da mala posta, no lugar de Casais Novos, freguesia de São Martinho de Recesinhos, lá onde se degustam os famosos "bolinhos de amor". Mas não esperava era ver sair de outra mala posta, pela mão de um homem vermelhusco e nutrido, que logo identifiquei como "o rubro e gordo Cabanelas" do poema, a figura franzina do jovem António Nobre, a caminho da casa de sua Mãe, ali perto no Seixo.
Tal como no poema, a mesa da estalagem onde nos encontrávamos tinha sobre as "toalhas brancas, honradas" uma boa oferta de doces e vinhos verdes. António Nobre, jovem caloiro de Coimbra, irritado e indisposto com as praxes, que já lhe tinham custado levar palmatoadas em público, e incomodado com o ar "bacharelático e funesto" que se respirava naquela Universidade, vinha ensimesmado e ausente, embora se sentisse aliviado com as férias familiares e manifestasse contentamento por reencontrar, ali nos Casais, a boa senhora Ana das Dores, que nos oferecia pão e doces e nos mostrava o magnífico fogão tradicional em que preparava todas aquelas vitualhas. [...]