sábado, 18 de maio de 2013

Laranjada, vinho e toalha de mesa.

[T. tinha conservado a Visão de 11 de Março - que há muito só esporadicamente adquire - por causa desta narrativa, intitulada «Família», em princípio autobiográfica, de José Luís Peixoto]

começa assim:

A toalha de mesa era nova e só se usava nesses almoços de domingo. Havia uma garrafa de laranjada de vidro grosso ao centro da mesa, ao lado do vinho. Antes, o meu pai tinha-me mandado à venda. Levava uma alcofa com duas garrafas vazias. O cheiro do vinho tinto estava entranhado nas paredes. Nessas horas, fim da manhã de domingo, atravessava as fitas e não estava ninguém na venda, só a caixa das pastilhas de mentol e uma cadela que não se incomodava com a minha presença. Tinha de bater com a palma da mão no balcão, que me chegava à altura dos ombros, e, meio tímido, tinha de chamar: Ti Lourenço, Ti Lourenço. Quando chegava, trazia a sua calma e o seu bigode. Trocava a garrafa vazia de laranjada por uma cheia e acertava o gargalo da outra garrafa na torneira do barril. Eu pagava com o número certo de notas de vinte e moedas de cinco escudos.  [...]
e assim termina:
[...] A toalha de mesa é nova. A toalha de mesa é sempre nova.

A LER na CASA da Revista: AQUI



 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.