- já há tempo que F. não relia este Conto Clariciano.
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A mesa fora coberta por uma solene abundância.
Sobre a toalha branca amontoavam-se espigas de trigo. E maçãs vermelhas,
enormes cenouras amarelas, redondos tomates de pele quase estalando, chuchus de
um verde líquido, abacaxis malignos na sua selvageria, laranjas alaranjadas e
calmas, maxixes eriçados como porcos-espinhos, pepinos que se fechavam duros
sobre a própria carne aquosa, pimentões ocos e avermelhados que ardiam nos
olhos – tudo emaranhado em barbas e barbas úmidas de milho, ruivas como junto
de uma boca. E os bagos de uva. As mais roxas das uvas pretas e que mal podiam
esperar pelo instante de serem esmagadas. E não lhes importava esmagadas por
quem. Os tomates eram redondos para ninguém: para o ar, para o redondo ar.
Sábado era de quem viesse. E a laranja adoçaria a língua de quem primeiro
chegasse.
[..]
Clarice LIspector
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