[pelos finais do século XIX, princípios do XX ?]
Em dezembro, encomendavam-se especialidades francesas e a casa enchia-se de caixas de abóboras e de empadões de vitela, de gaiolas repletas de perdizes vivas e de faisões depenados, já pousados na sua travessa de prata, cujas carnes estavam tão endurecidas pela viagem que à chegada não se conseguiam cortar. As mulheres entregavam-se então a experiências culinárias inverosímeis que pareciam mais próximas da feitiçaria que da gastronomia. Misturavam às velhas tradições das mesas francesas a vegetação da Cordilheira, impregnando os corredores de odores misteriosos e de fumos amarelos. Serviam-se empanadas recheadas de morcela, coq-au-vin, pasteles de jaiba com queijo maroilles, e reblochons tão fedorentos que as criadas chilenas pensavam que provinham sem dúvida de vacas doentes. [...] [negrito acrescentado]
Miguel Bonnefoy, Uma herança, Asa, 2023, p. 14
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