87
Não quis chocolate e
pedi um chá de zimbro e gengibre com bagas silvestres. Não sei que bagas serão mas
se começar a escrever dislates paciência. Na mesa que prefiro está sentada uma
mulher que morde umas torradinhas finas. Uma mulher velha com um meio xaile
sobre os ombros. Mastiga muito lentamente como que a procurar a melhor posição
dos dentes. Do outro lado estão mulheres muito novas que comem tostas e o
queijo derretido deixa longos fios suspensos no ar. Eu sou a mulher do meio e o meu chá é rosado dentro da chávena branca. Por me
saber de fim-de-semana longo encho-me de uma beatitude rara. Estico as pernas
debaixo da mesa e rodo devagar os tornozelos. Primeiro um depois outro. Neste
momento sou uma criatura contente.
Irene Mendes da Silva, A mulher do meio (fragmento
87),
2019, Língua Morta, pp. 49-50
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.