[Soneto relido num JL «antigo», após «Ultimato» da General Z para Eliminar «o papel Velho e cheio de ácaros» (exp. da Própria, nunca a Outra...) que se acumulava num dos Cadeirões da Sala...]
pois eu gosto de lombo e feijoada,
favas e grão, e tudo o que indigesto
me faz sentir um cidadão honesto
na hora prandial e bem regada
do tinto das colheitas a que presto
a vénia palatal e reiterada,
sem esquecer qualquer bacalhoada,
troixas de ovos, pudins e tudo o resto
que até podem provar-nos que algum deus
afinal sempre existe e é cá dos meus
e às vezes me aproxima do vinicius
e pode mesmo ser que não se morra
assim da grande bouffe à tripa-forra,
e se faça um soneto a esses vícios...
Vasco Graça Moura
Nota: «Este poema foi escrito no tempo e nas circunstâncias que J. C. de Vasconcelos refere na sua coluna da p. 3 e de certa forma 'responde' ao de Vinicius que refere e que aqui se recorda:
Não Comerei de Alface a Verde Pétala
Nem da cenoura as hóstias desbotadas
Deixarei as pastagens às manadas
E a quem mais aprouver fazer dieta.
Cajus hei-de chupar, mangas-espadas
Talvez pouco elegantes para um poeta
Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas.
Não nasci ruminante como os bois
Nem como os coelhos, roedor; nasci
Omnívoro: deem-me feijão com arroz
E um bife, e um queijo forte, e parati
E eu morrerei feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão.
[transcritos da p. 11 da edição de 14 a 27 de maio de 2014, do dossiê dedicado a V. G. M.]
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