Teofrasto chamou-lhes plantas
imperfeitas quase ausentes
«Destapa as terrinas e as cuias, vê condimentado o thiof fresco que lhe mandaram do Senegal, seu pescado predilecto, aquele que entre os peixes mais tem sabor a rocha, costuma dizer, recheado de ervas e pimentas, olha guloso para o arroz amarelo nadando em óleo de palmito, para a tigela de molho avermelhado de malagueta, e sorri. De convido, descobre sob a toalha branca no meio da mesa uma gamela de mandioca, cenoura, batata-doce, inhame e repolho. Serve por ordem: arroz, verduras, peixe e molho. Come sozinho. Mastiga sofregamente, saboreia cada bocado até à raiz da saliva, toma uns goles do vinho ácido argelino, limpa os lábios com um paninho alvo, e compenetra-se como se esta fosse a sua última refeição. Arruma as espinhas num canto do prato, cobre a sobra com uma ponta da toalha, leva a loiça à cozinha, lava-a na bandeja de plástico dentro da pia, suspende o bule sobre o carvão, serve uma xícara de café como postre e bebe a olhar para a banheira velha de esmalte coberta de folhas podres no quintal. [...]»
Mário Lúcio Sousa, A última lua de homem grande, 2022, p. 107; [OUTRO]