[é um três (recentes) livros de poesia que veio, para a Zmab, com a lista das 12 Narr.s; também viajou diariamente, entre o GLH e a E. do Paraíso, para leituras dispersas, face à sua amplitude...;
- o que se transcreve é o último de uma pequena série seleccionada, sobre o MOtivo do Café
20 de Junho
PRIMEIRAS HORAS da
manhã. Um Café está sempre à espera, as palavras demoram-se e conversam sobre a
mesa, usando o espaço do ar para tocar na fala de outros, contribuindo para
criar pelo cruzamento de sílabas, palavras hermafroditas de sentido fragmentário,
o idioma do Café.
O
burburinho gerado fala uma língua
própria, somente inteligível pelo empregado de mesa. Vejo-o serpentear pela
sala num jogo de decifração, escutando na mesa da frente a resposta à pergunta
lançada na mesa anterior, descodificando murmúrios, traços de inconfidências,
irreveláveis segredos.
A
moeda sob o recibo vai comprar o seu silêncio.
Porto, Café Corcel, 1994-1995
[sublinhados acrescentados]
João Luís Barreto Guimarães, O tempo avança por sílabas, Quetzal,
2019, p. 41 (de Lugares comuns, 2000)