[T. tinha conservado a Visão de 11 de Março - que há muito só esporadicamente adquire - por causa desta narrativa, intitulada «Família», em princípio autobiográfica, de José Luís Peixoto]
começa assim:
A toalha de mesa era nova e só
se usava nesses almoços de domingo. Havia uma garrafa de laranjada de vidro
grosso ao centro da mesa, ao lado do vinho. Antes, o meu pai tinha-me mandado à
venda. Levava uma alcofa com duas garrafas vazias. O cheiro do vinho tinto
estava entranhado nas paredes. Nessas horas, fim da manhã de domingo,
atravessava as fitas e não estava ninguém na venda, só a caixa das pastilhas de
mentol e uma cadela que não se incomodava com a minha presença. Tinha de bater
com a palma da mão no balcão, que me chegava à altura dos ombros, e, meio
tímido, tinha de chamar: Ti Lourenço, Ti Lourenço. Quando chegava, trazia a sua
calma e o seu bigode. Trocava a garrafa vazia de laranjada por uma cheia e
acertava o gargalo da outra garrafa na torneira do barril. Eu pagava com o
número certo de notas de vinte e moedas de cinco escudos. [...]
e assim termina:
[...] A toalha de mesa é nova. A toalha de mesa é sempre nova.
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