domingo, 17 de junho de 2012
quinta-feira, 7 de junho de 2012
sábado, 2 de junho de 2012
Cerejas, Vénus e Vulcano - Estilo
[num destes dias. Mestre M. M. - mentora desta Cave - falava de cerejas na sala MORT, temprariamente ocupada por SIND - para M. M., então]
[...] Blimunda estava ali, com um
cesto cheio de cerejas, e respondia, Há um tempo para construir e um tempo para
destruir, umas mãos assentaram as telhas deste telhado, outras o deitarão
abaixo, e todas as paredes, se for preciso. Esta é que é Blimunda, disse o
padre, Sete-Luas, acrescentou o músico. Ela tinha brincos de cerejas nas
orelhas, trazia-as assim para se mostrar a Baltasar, e por isso foi para ele,
sorrindo e oferecendo o cesto. É Vénus e Vulcano, pensou o músico,
perdoemos-lhe a óbvia comparação clássica, [...]
Sentaram-se todos em redor da merenda,
metendo a mão no cesto, à vez, sem outro resguardar de conveniências que não
atropelar os dedos dos outros, agora o cepo que é a mão de Baltasar, cascosa
como um tronco de oliveira, depois a mão eclesiástica e macia do padre
Bartolomeu Lourenço, a mão exacta de Scarlatti, enfim Blimunda, mão discreta e maltratada, com as unhas sujas de quem veio
da horta e andou a sachar antes de apanhar as cerejas. Todos eles atiram os
caroços para o chão, el-rei que aqui estivesse faria o mesmo, é por pequenas
coisas assim que se vê serem os homens realmente iguais.
José Saramago, Memorial do convento
[no «CBDV», em 2007, em resposta a consulta vinda do Brasil, Eunice Marta analisa estilisticamente parte do recorte acima transcrito ]
Subscrever:
Mensagens (Atom)